{ LEVEI MEU FILHO PRA ISLÂNDIA }

 
 

Levei meu filho pra Islândia.
Às vezes nem eu mesmo acredito que fui, e além de tudo levamos a criatura junto.
Sabe aquele momento de planejar a viagem do ano e pensar se fazemos aquela viagem de casal ou aquela excursão de família?
Aqui em casa meio que só temos trabalhado com a segunda opção nos últimos anos.
Claro que é gostoso tirar folga dos catarrentos, sair pra jantar sem hora pra voltar, flanar pela rua embriagado na madrugada, mas e o gostinho de mostrar o mundo pra sua melhor parte?
E meu Deus, como não levaria meu filho pra Islândia?
É aquele lugar que você provavelmente não volta numa mesma encarnação…
É, a gente podia ter ido passar o verão onde o verão fosse quente, procurar lugares mais amigáveis na Criançolândia, mas a gente é assim, meio esquisitinho mesmo…
Mas e aí, vale a pena levar uma criança pra Islândia?
Ser turista na Islândia não é lá a coisa mais fácil do mundo.
Vai ter perrengue, vai ter chuva, vento, muuuito frio, nariz ranhento, dor de ouvido, meia molhada, trilha, andança, bolha, horas na estrada, e em nenhum momento você vai parar pra estender sua canga e tomar um drink.
É uma viagem contemplativa, uma cesta básica pros olhos, alma e coração.
Mas e como fica a pequena criatura nisso tudo?
Será que ela vai achar graça e ver beleza nesse tipo de coisa?
Eu sou daquele tipo que sempre suspeita que a criança não se liga muito se tá em Paris ou em São Roque, e São Roque é tão mais barato, né?
Mas dessa vez foi diferente.
Não dá pra ficar imune à força da Islândia.
Parece um filme apocalíptico que apertaram o pause nas cenas mais loucas.
Parece a terra rachando no meio e transbordando, e tem horas que você vê isso mesmo.
Passear por campos de lava cristalizada, dormir no pé do vulcão, rachar a testa de frio e quase congelar as lágrimas quando damos de cara com geleiras gigantescas, caminhar entre placas tectônicas, brincar de achar as diferenças entre as cores dos icebergs, correr em cenários de Stars Wars, nadar em águas vulcânicas azuis a 40 graus, perder a conta das ovelhinhas pela estrada, esperar e se encantar loucamente cada vez que explode um geiser, mesmo que tenha sido a décima vez, passar por trás de cachoeiras fenomenais que encharcam a alma só de olhar, descobrir placas de trânsito que indicam cidades de Vikings e Duendes, caminhar por ruazinhas de casas coloridas que mais parecem feitas de Lego…
Não sei quanto disso tudo entrou na alma dele ou se ele preferia estar em Orlando de chinelo e regata, mas suspeito que de alguma maneira São Roque nunca pareceu tão mágico.

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